quinta-feira, 12 de maio de 2011

Questão de literatra



 



Questão de literatura



Em passagem por Fortaleza no último fim de semana, o curador do prêmio Jabuti de literatura, José Luiz Goldfarb, conversou com O POVO sobre as recentes mudanças no regulamento da premiação e sobre os rumos da leitura diante das novas tecnologias
10.05.2011
 
José Luiz Goldfarb:  José Luiz Goldfarb: "As pessoas só leem o necessário. Essa leitura não cria a capacidade de interpretar e reter a informação. O que dá isso é a leitura por prazer. Esse é o grande gargalo do nosso País" (ETHI ARCANJO)

Até o dia 31 de maio, o prêmio Jabuti, apontado como a principal premiação literária do Brasil, está recebendo inscrições pelo site da Câmara Brasileira de Livros (www.cbl.org.br/jabuti). A 53ª edição, no entanto, vem com algumas mudanças. Além de ter aumentado de 21 para 29 categorias, o regulamento excluiu a premiação de três livros por categoria. Agora, só quem tirou primeiro lugar na sua categoria pode concorrer ao prêmio de Livro do Ano de Ficção e Livro do Ano de Não-ficção. Para os organizadores do Jabuti, as alterações são vistas como um progresso e o possível fim das polêmicas que incendeiam o prêmio a cada ano.

Em passagem por Fortaleza no último fim de semana, José Luiz Goldfarb, curador do prêmio Jabuti há 20 anos, conversou com O POVO e garantiu que as mudanças nada tiveram a ver com a polêmica que envolveu o escritor e compositor Chico Buarque, na edição de 2010. O prêmio ficou em evidência na mídia depois que autor levou o título de Livro do Ano de Ficção, com Leite Derramado, obra que havia ficado em terceiro lugar na categoria romance. “Não importa quão bom for o meu jurado, quão honestos eles forem, sempre quem perdeu vai achar que foi injustiçado e vai cutucar a mídia para reclamar”, disparou o curador.

Para Goldfarb, o prêmio dado ao escritor teve merecimento, sim. “É claro que o Chico é um puta de um escritor, ele é traduzido na Europa. Na hora em que ele escreve um romance, tem alguma coisa ali que faz as pessoas ficarem doidinhas por ele”, elogia. As mudanças no regulamento, entretanto, são um alívio para quem tem o papel de escolher os jurados e manter a lisura do concurso. “O fato de um prêmio possibilitar que o terceiro lugar vire o primeiro, lá longe, quem não está muito por dentro vai falar: ‘Hum, Brasil’. Eu, como curador, não gostava de ter que me explicar por uma fraqueza regimental”, pontua.
Redes sociais
Devorador de livros, Goldfarb é igualmente entusiasta da Internet e suas redes sociais e aposta em ferramentas como o Twitter para a promoção da cultura. Para ele, o microblog é um “corta caminhos” para que as pessoas se envolvam com os temas culturais, tanto que há dois anos é um dos mentores do Encontro de Twitteiros Culturais (ETC), evento que o trouxe a Fortaleza no último sábado. “O grande barato é conseguir fazer o ‘povão’ ler porque, a partir da leitura, todas as outras áreas – teatro, cinema, dança – vão ficar enriquecidas. Quando a gente está twittando, está escrevendo e está lendo”, acredita. 
 
O alvo principal dos estímulos das redes sociais têm sido, principalmente, jovens universitários, o que, para o curador, já é uma vitória. “É só uma faixa etária, mas que também é muito importante porque você conseguir trabalhar a escrita com universitários hoje é um problema”, lamenta. As mesmas dificuldades se repetem quando se fala em nível de leitura dos brasileiros. 

Segundo Goldfarb, num ranking em que participam países economicamente semelhantes ao Brasil, o nosso país fica entre os últimos colocados quando o quesito é leitura. “As pessoas só leem o mínimo necessário para a escola, para o trabalho, faculdade. Essa leitura que você faz para ser alfabetizado para tirar o certificado nas áreas escolares não cria na sua cabeça a capacidade de ler, interpretar e reter a informação. O que dá isso é a leitura por prazer. Esse é o grande gargalo do nosso País”, ressalta.

A Internet, juntamente com aparelhos eletrônicos que permitem o acesso a livros digitais, entra como ferramenta possível para amenizar o quadro. Goldfarb vê com bons olhos tais inovações no mercado editorial, justamente por estarem dando mais oportunidades aos leitores assíduos e estimulando aqueles que não tinham o hábito de folhear obras literárias. “Quem já lia, passou a ler mais. Antes, quando uma pessoa ia viajar, levava na mala dois ou três livros que estava curtindo. Hoje, com um iPad, ela pode levar na bolsa dez livros”, calcula, e acrescenta: “Quem não lia, metade das pessoas que tiverem um equipamento, começam a ler. A outra metade vai usar o equipamento para comunicação, jogos e não começa a baixar livros”.

Como está se comportando o mercado editorial diante desse novo cenário? O curador é categórico: “Está num desespero”. Mas, segundo ele, parte do mercado está “corajosa, audaciosa e descobrindo como vai fazer a transição”. “Tem muita empresa que está passando seus livros para o e-book e outras que estão lançando só no e-book ou nos dois”, descreve. Já os livros de papel, aposta, apesar das ameaças do mundo virtual, continuarão ter seu espaço nas prateleiras, ainda que em tamanho reduzido. Mas desaparecer, não. “É a mesma coisa que perguntar: o cinema morreu?”.

Quem

ENTENDA A NOTÍCIA

Há 20 anos, José Luiz Goldfarb é curador do prêmio Jabuti, a mais importante premiação de literatura do País. É também criador dos Encontros de Twitteiros Culturais (ETC), reunindo mais de 14 mil seguidores em seu Twitter (@jlgoldfarb).
 



Fonte:  O POVO Online/OPOVO/Vida e Arte

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